terça-feira, maio 06, 2008

Blogueira cubana impedida de receber prêmio.

Hoje pela manhã li pelo site da BBC Brasil que a escritora, jornalista e blogueira cubana Yoani Sánchez recebera o prêmio Ortega e Gasset de Jornalismo, que desde seu ano de criação (1984) pelo diário espanhol El País e que tem como finalidade distinguir a defesa das liberdades, a independência e o rigor, como pilares essenciais do jornalismo. Yoani também foi incluída pela revista americana Time como uma das 100 pessoas mais influentes do planeta.




Mas nem todas essa credenciais foram suficientes para que o governo cubano a autorizasse a deixar a ilha para receber sua premiação,para minha surpresa (ou não) já em casa vejo pelo site da folha que a referida blogueira não teve sua autorização de deixar o país concedida pelo governo, fato que já era meio que esperado em tempos de Fidel, mas que uma breve e relutante esperança fez alguns acreditarem que com um "novo" comandante na ilha talvez as coisas melhorassem um pouco.




Lendo engano, a mão firme de um regime autoritário continua presente na ilha, como sempre previu a autora do blog, em uma entrevista concedida ao repórter Fernando Moreira do Globo Online.




O GLOBO ONLINE: O que aconteceu exatamente com o seu blog?




YOANI: O governo retirou o blog do ar durante quatro dias este mês por causa do grande número de pessoas que passaram a acessar. Em locais públicos como cybercafés era impossível acessar. Só turistas e alguns privilegiados ligados ao governo podiam ler o que eu escrevia. Eles se incomodam porque falo para pessoas que precisam ouvir coisas diferentes e não apenas a versão oficial. Coisas que mais se parecem com as suas vidas e não aquela mensagem artificialmente otimista que o governo tenta passar.



O GLOBO ONLINE: Essa censura aconteceu em momento em que, teoricamente, começam a surgir mudanças para o povo, como a possibilidade de todos os cubanos terem um celular. Agora, os hotéis estariam se abrindo para os nativos. Não parece um retrocesso?



YOANI: Na verdade, o presidente Raúl Castro só está oficializando o que muitos já faziam clandestinamente, adquirindo celulares e computadores no mercado negro. Para se tornar minimamente um cidadão, o povo se acostumou a tomar os recursos do Estado e a ter o mercado negro como parte de sua vida. O governo nos pôs em uma encruzilhada e tivemos que recorrer a fornecedores clandestinos para sobreviver. Não defendo isso cegamente, mas o mercado negro se tornou o pilar da sociedade cubana.



O GLOBO ONLINE: Qual é a sua opinião sobre a saída de Fidel Castro do poder?



YOANI: Esperávamos isso desde 31 de julho de 2006. Mas se deu por uma questão biológica. O mais dramático para o povo é que isso tenha acontecido por uma questão biológica. É lamentável que a biologia tenha dado a última palavra e não um processo político natural.



O GLOBO ONLINE: O que você espera do presidente Raúl Castro?



YOANI: Estamos vivendo um período de sombra de Fidel, com muitas indecisões políticas. Raúl é menos idealista que Fidel, é mais pragmático. Ele pertence a uma geração muito velha para administrar o poder. Ninguém o vê como um grande reformista. O presidente está sendo obrigado a mudar, mas não espero muita coisa. Pode ser que tenhamos mais comida na mesa, mas em relação à liberdade não vejo avanços. Em Cuba faltam muitas coisas materiais, mas certamente o que mais esperamos é a liberdade, esse sonho que seria mais do que uma nova revolução cubana. Uma revolução sem violência, uma catarse coletiva para repassar 50 anos da História.



O GLOBO ONLINE: No seu blog você reclama que sequer encontra limões para comprar. As frutas são uma metáfora da carência na ilha?



YOANI: Não, estou falando de limões mesmo. Estive muito gripada há pouco tempo e não encontrei a fruta. A crise do limão, que é uma coisa muito simples, dá a dimensão exata das dificuldades pelas quais os cubanos passam. Um símbolo do excesso de burocracia e da camisa de força que os agricultores são forçados a usar.



O GLOBO ONLINE: Você usa o blog como uma arma contra os Castros?



YOANI: Não diria exatamente isso, embora possa soar assim para muitos. Na verdade diria que é um processo pessoal de catarse, um exorcismo. Vejo como uma coleção de perguntas que ninguém nunca responde.



O GLOBO ONLINE: E um dia vai responder?



YOANI: Sim, tem que responder. Estamos vivendo um esgotamento de projetos. Não só os políticos, mas os pessoais. É o que acontece com o drama da emigração desesperada. A população não tem mais orgulho do país. Desde cedo os pais colocam na cabeça dos filhos que a única saída para ter uma vida melhor é sair do país.



O GLOBO ONLINE: Você já temeu por sua integridade física?



YOANI: Nem penso nisso. Não posso tomar meu tempo pensando que haverá um ato de repressão. Do contrário eu me paralisaria. Não recuo, não cedo espaço para um regime que costuma anular indivíduos sem sequer tocar em um fio de cabelo deles.




Pois é, e quem pensava em uma melhora ...





Ele não é tão diferente do irmão assim.

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